18°C 30°C
Juazeiro do Norte, CE
Publicidade

Jovens que estudam e trabalham falam sobre a rotina para conciliar a escola e o emprego: 'A gente precisa fazer esse sacrifício'

Estágio, emprego formal, ocupação informal. A necessidade de conseguir uma renda se mistura à obrigação de estudar na rotina de milhões de alunos no paí...

17/11/2023 às 09h25
Por: Ranilson Silva Fonte: G1.com
Compartilhe:
Jovens que estudam e trabalham falam sobre a rotina para conciliar a escola e o emprego: 'A gente precisa fazer esse sacrifício'

Estágio, emprego formal, ocupação informal. A necessidade de conseguir uma renda se mistura à obrigação de estudar na rotina de milhões de alunos no país. Alunos que estudam e trabalham gravam vlog mostrando a rotina atarefada diariamente. O termo “jovens nem-nem” se popularizou para falar daquele público ainda na juventude que “nem trabalha, nem estuda”. Contudo, do outro lado da moeda, estão milhões de jovens e adolescentes com a responsabilidade de estudar e trabalhar ainda enquanto fazem, por exemplo, o ensino médio. Para eles, ainda não há popularização nem de termos, nem de atenção. Compartilhe esta notícia no WhatsApp Compartilhe esta notícia no Telegram O Brasil registrou quase 8 milhões de jovens entre 15 e 29 anos estudando e trabalhando em 2022, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O número (7.693.000) representou 15,7% da população nessa faixa etária. Da necessidade de uma renda para sobreviver à vontade de entrar no mercado de trabalho, os motivos se diferenciam para este público. No entanto, entre as semelhanças, está a rotina atarefada. LEIA TAMBÉM: Ceará vai receber quase R$ 900 milhões para educação após acordo com AGU e MEC Exemplo dentro e fora da escola: as estratégias educacionais de combate à evasão estudantil causada pela violência na Grande Fortaleza Ceará tem o maior número de concludentes do ensino médio inscritos no Enem no país, diz MEC É o caso de Luís Henrique da Silva Alves, de 18 anos. Ele faz curso técnico em hospedagem em uma escola profissionalizante de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, e estagia em um hotel na Praia de Iracema, na capital, como parte obrigatória da formação curricular. No mesmo local, ele também atua como contratado do estabelecimento. Luís Henrique é estudante do curso técnico em hospedagem de uma escola em Caucaia, no Ceará. Kid Junior/SVM “A gente precisa fazer esse sacrifício para poder estudar e trabalhar. Eu procurei ao máximo me esforçar e correr atrás do meu sonho. Mas eu sei que muitos jovens não têm a condição de só estudar.

Continua após a publicidade
Anúncio

A gente tem muita desigualdade social. Muitos jovens estudam e trabalham porque precisam trabalhar. É preciso pensar por esse lado também”, declarou o jovem. Luís Henrique acorda ainda na madrugada para o primeiro dever do dia: o terceiro ano do ensino médio na Escola Profissionalizante Marly Ferreira Martins. Depois, ele se desloca cerca de 20 km, entre Fortaleza e Caucaia, para mais dois afazeres: o estágio e o emprego, ambos em um hotel da orla fortalezense. Além de estudar, o jovem estagia e trabalha em um hotel no litoral de Fortaleza. Kid Junior/SVM O estudante não nega que a rotina de escola, estágio e trabalho prejudica a preparação para uma das provas quase obrigatórias na trajetória de todo aluno: o vestibular. “Fica muito complicado para quem pensa em passar no vestibular. Muito mesmo. Eu tento me preparar o máximo que posso. Por mais que você queira, você não consegue porque o físico, o corpo não aguenta”, lamentou o jovem.

“Quando eu saio só do estágio, eu até tento revisar as matérias. Mas quando eu saio 23h do trabalho, aí fica bem mais difícil. Eu só chego em casa, tomo banho e vou dormir porque, no outro dia, 5h já tenho de me preparar para a escola de novo”, complementou Luís Henrique. Dados sobre jovens que estudam e trabalham no Brasil. Louise Anne/Unidade de Arte/SVM Questão de sobrevivência Samille faz o terceiro ano do ensino médio à tarde, e trabalha à noite. Kid Junior/SVM A madrugada que inicia a rotina de Luís Henrique também encerra o dia a dia de Samille Cristina. A estudante de 20 anos, também no terceiro ano do ensino médio, é mais uma dos milhões de jovens que trabalham e estudam. Ela chega na escola às 13h, e sai às 18h. Logo após, ela vai direto ao trabalho para um expediente que só encerra entre 1h e 2h da madrugada. Samille é natural do Pará, e se mudou para Fortaleza com os tios quando tinha 17 anos. Eles decidiram voltar para o estado natal, mas a jovem optou por ficar no Ceará, sozinha. “Quando eu decidi morar sozinha, eu tinha de arranjar um trabalho porque eu não sou daqui”, disse a jovem, que trabalha informalmente há mais de um ano em um estabelecimento popularmente conhecido como “espetinho”, com venda de churrascos.

 A necessidade de trabalhar e estudar fez, inclusive, a jovem interromper os estudos anteriormente. “Eu tranquei minha matrícula ano passado por conta do trabalho. Eu moro sozinha, e é muito puxado trabalhar e estudar ao mesmo tempo”, desabafou. “Antes eu tinha dois trabalhos, pela manhã e pela tarde. Como eu estudava pela noite, era muito cansativa. Eu acordava 7h e só chegava 18h em casa. Era muito cansativo, muito exaustivo. Então, tive de focar em uma coisa ou outra. Tive de trancar porque não estava conseguindo estudar e trabalhar ao mesmo tempo”, complementou a jovem. Natural do Pará, Samille precisa trabalhar pois mora sozinha no Ceará. Kid Junior/SVM No Ceará, 237.000 jovens entre 15 e 29 anos estudavam e trabalhavam em 2022, conforme o IBGE. Apesar da rotina atarefada, Samille decidiu retomar os estudos — visando também trabalhos futuros empregos. “Eu voltei para a escola porque queria terminar. As vagas de emprego normalmente pedem o ensino médio completo. Eu também penso em fazer faculdade”, disse. Ela considera cursar psicologia, porém, não nega que tem sido complicado focar em vestibular — até mesmo nos dias de folga. “No domingo, eu foco em descansar mesmo. A minha rotina já é muito corrida durante a semana.

Continua após a publicidade
Anúncio

 Na segunda-feira, tenho de começar tudo de novo. É muito cansativo porque a gente que trabalha não tem a mesma disponibilidade para estudar. Lógico, eu tenho de estudar. Eu, por exemplo, tenho TDAH, então tenho de focar mais, me esforçar mais. É muito mais delicado”, lamentou Samille, comentando sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, condição que leva à dificuldade de atenção às atividades. Desafios da educação Bruna Sonir é diretora em uma escola de tempo integral há três anos, na Grande Fortaleza. Kid Junior/SVM A divergência entre enxergar o trabalho como algo positivo e assumir que ele pode causar prejuízos à etapa estudantil gera desafios para os profissionais da educação. “Como dialogar com alunos e famílias, especialmente em vulnerabilidade socioeconômica, sobre focar nos estudos ao invés do trabalho?” tem sido o questionamento que norteia o expediente de educadores. “A gente não consegue dizer para esse aluno 'meu filho, foque nos estudos', porque já vem uma visão da própria família de que ele precisa trabalhar; que ele já vai ficar maior de idade. Com isso, o aluno fica muito desestimulado em encarar os estudos, em focar nas universidades. Ele se preocupa mais com o trabalho”, comentou Bruna Sonir Lossio Vieira Holanda, diretora de uma escola em tempo integral na Região Metropolitana de Fortaleza. “O trabalho, além de causar falta, evasão, causa cansaço. Então, são meninos que, muitas vezes, dormem em sala de aula. Nós temos vários alunos que trabalham à noite, em restaurantes. Então, viram a noite, vão para casa de madrugada, e 7h já tem de estar aqui na escola”, complementou a diretora.

 Coordenadora de escola fala sobre desafios educacionais dos jovens que estudam e trabalham O desafio é compartilhado por Debora Fofano, doutora em educação e coordenadora de uma escola em tempo integral. “Os alunos passam o dia na escola, mas, ainda assim, alguns deles encontram algum tipo de ocupação — não chamo nem de emprego, porque geralmente não são situações formais, mas eles encontram algum tipo de sustento depois da escola. Normalmente, à noite”, explicou. Debora disse ainda que a escola busca a família, para conversar sobre todo esse processo, mas a vulnerabilidade social, muitas vezes, acaba falando mais alto. “São famílias muito desestruturadas. Não é com relação à falta de amor, carinho, não é isso. Mas são famílias sem condições de oferecer um ideal de vida melhor. A desestruturação familiar não dá o suporte que eles precisam para seguir só estudando”, lamentou a coordenadora. A coordenadora disse que alguns alunos, mesmo conseguindo isenção das taxas de inscrição do Enem e do vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece), escolhem não ir fazer as provas no dia.

Continua após a publicidade
Anúncio

 “Eles falam 'ah, é num domingo? Vou não. Dia de domingo, eu durmo'”. Debora Fofano é doutora em educação pela Universidade Federal do Ceará. Kid Junior/SVM “A gente tem um público que poucos alunos têm a confiança de ir para o vestibular, para o Enem; é uma porcentagem pequena visto esse impacto do ter que trabalhar. Então, eles têm a visão de mundo de 'vou terminar os estudos e tenho de ir trabalhar'”, complementou. Debora, no entanto, reforçou que a escola tenta desenvolver estratégias para conscientizar os alunos da importância do ensino superior — inclusive, com o argumento de conseguir melhores empregos. Subnotificação As situações estruturais que agravam a falta da atenção adequada a alunos que estudam e trabalham vão desde a subnotificação desses perfis à percepção das famílias sobre esse tipo de situação.

 O g1 questionou órgãos como o Ministério da Educação, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério do Trabalho e Emprego sobre dados de quantos jovens trabalham e estudam no país. No entanto, nenhum desses órgãos contabiliza esse tipo de perfil. No Ceará, estado referência quando o assunto é educação, também há ausência de dados deste público. Pastas como Secretaria da Educação (Seduc) e da Proteção Social (SPS) — que gerencia programas de inserção de jovens no mercado de trabalho, como o “Primeiro Passo” — também informaram não possuir esse tipo de estatística. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Juazeiro do Norte, CE
19°
Tempo limpo

Mín. 18° Máx. 30°

19° Sensação
0km/h Vento
77% Umidade
0% (0mm) Chance de chuva
05h50 Nascer do sol
05h32 Pôr do sol
Sex 31° 18°
Sáb 32° 17°
Dom 31° 17°
Seg 30° 19°
Ter 29° 21°
Atualizado às 03h03
Publicidade
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,42 -0,07%
Euro
R$ 6,40 -0,02%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 628,961,08 +0,12%
Ibovespa
139,050,94 pts -0.36%
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Lenium - Criar site de notícias